O modelo de “permissão” de uma atividade dada pelo estado
para a execução ( e ganho) da iniciativa privada não tem funcionado bem.
Recentemente o governador do estado do Rio Grande do Sul, referindo-se as
concessões das estradas, resumiu estes 20 anos de experiência como uma “mamata”
para os empresários. É exatamente o que o povo pensa também.
E em todos os exemplos
nacionais o modelo de concessões é um fiasco. A permissão em telecomunicações
não garantiu programas educativos. O modelo de telefonia é marcado mais pelo
lucro que pelo investimento. Aposentadoria privada em mãos de bancos foi objeto
de interessante artigo de João Ubaldo que resume o fiasco (ver em http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,melhor-nao-adoecer-,812535,0.htm
). As operadoras de saúde complementar, em Porto Alegre, não estão fornecendo
leitos nem consultas em datas próximas. A energia elétrica é a mais cara que
poderia ser. A anvisa é um órgão enviesado pelos interesses econômicos da
indústria de genéricos, perseguindo as empresas internacionais. A Anac é uma
instituição em que a corrupção e inoperância ainda esta sublinhada com sangue
na memória de todos nós.
A realidade do modelo de permissões é muito menos apelativa
que a teoria. A distância entre a teoria interessante e a realidade desapontadora é explicada pela
ausência de fiscalização por parte do permissionário.
O modelo de permissões não funciona pois o estado não é um
bom fiscalizador do capital. Na verdade, em um desenho de três lados, tendo o
capital, o estado e a população em cada vértice, sempre temos o capital e o
estado unidos contra a população. O estado é altamente permeável ao capital, em
particular no nosso meio. O estado que deveria “fiscalizar” o capital no modelo
das permissões, com ou sem dolo, se omite. Muitas vezes lucra junto: quando dá
a permissão (escolhendo o Lerner para revitalizar o cais, por exemplo), quando
precisa do capital para financiar a próxima campanha eleitoral. Quando não lucra, não fiscaliza. Não tem
estrutura ou interesse em denunciar a “mamata”. O modelo de permissão não
funciona pois lhe falta uma fiscalização comprometida com o interesse do
público e não do capital: pois não temos estado comprometido com o princípio
republicano.
O modelo de concessão por cinquenta anos proposto para o
cais Mauá de Porto Alegre também não deve funcionar.. Por que deveria funcionar
no cais o que já não deu certo nos pedágios? Na região do cais cabe bem um
Parcão público, com ciclovias, sem apelativos de ordem “comercial”, sem
edifícios de parking, árvores. O estado é uma aposta melhor que a iniciativa
privada para construir este novo Parcão, já que área já é, e deve permanecer
pública, para o uso público. O custo de alguns pés de árvore pago eu, é um
presente para a cidade.
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