Cais Maua

Em defesa de uma parceria público privada em que o que seja público siga-o, e o que é da privada, siga-a!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O que era para ser democracia esta mais para pedofilia



A democracia, bem como o nome explicita, deveria ser um mecanismo da representação dos interesses do povo. Não tem sido, no nosso meio e no nosso tempo. No episódio do cais do porto de Porto Alegre, os interesses do capital (rede Hilton, construtora Camargo Correa, grupo RBS) de construir na orla e no centro da cidade, em terrenos de imenso valor imobiliário e afetivo (dentro do rio), estavam em choque com os interesses da população. Ao povo teria menos serventia uma Padre Chagas acanalhada por dois prédios de 38 andares dentro do rio, do que um novo parcão na região do cais. Não interessa ao povo de Porto Alegre, uma região destruída por bárbaros engarrafamentos, com um visual de Blade runner, com dois espigões e um shoping poluindo de exagero de trânsito e carros, esgoto e assaltos o que poderia ser um sereno espaço de cultura, passeio e parque.
                No conflito entre o interesse do povo e o interesse do capital, o poder público tomou o partido do capital, abandonando quem deveria representar. No lugar de defender a praça, o distrito cultural, ou apenas um píer para se fazer fotos, o poder público defendeu a rede Hilton, o grupo RBS, a construtora Camargo Correa, os donos das lojas que farão o shoping, entregando área pública para o uso (“apenas por 50 anos”, mas não é pouco tempo) privado. O poder público não apenas nos traiu, traiu a si mesmo, pois saído do seu papel de nos defender, caiu na falta de sentido, na falta de identidade. Por que precisamos de prefeito, se ele ali esta para defender os interesses de nossos opositores? Como dizia uma frase pixada por anarquistas na Espanha: “que se votem eles (os políticos)”.
                O mais incômodo no episódio do cais, não é apenas que em grande maioria os vereadores votaram contra os eleitores, contra a cidade, contra a população que os elege. O mais incômodo foi que os vereadores “lideraram” o projeto. Sabendo da semvergonhisse e impopularidade de seus atos, gestaram o projeto “em segredo”, e votaram em momento –um dia antes do feriado de natal- que não desse para discutir mais a votação. Estes detalhes mostram que os políticos sabiam-se fora de seu papel de defender o interesse público.
O mais incômodo, é que os políticos foram produtores de mentiras e engambelações de toda ordem para iludir o povo , sabendo que eram idéias que apenas estavam ali para o lucro pessoal deles políticos. Como diz o Millor: desconfio de quem lucra com seus ideais.  São mentiras criada pela camarilha que roubou da população de Porto Alegre a posse sobre o cais: a) o custo de 500 milhões (quando o custo não chega a um milhão); b)o uso para a copa (quando se sabe da inclemência do Minuano em Julho, não haverá como usar a região no inverno); c) a imagem de que a região ficará igualzinho ao porto Madeiro, em Buenos Aires (quando no porto Madeiro não tem dois espigões dentro do rio, duas torres gêmeas, cada uma com 38 andares, dentro do rio, atraindo centenas de automóveis para engarrafamentos e gerando kilos de esgoto. Também não tem um shoping amesquinnhado o cartão postal. Pelo atual projeto, a inspiração é menos o porto Madeiro, e mais o porto de Itajai).
O que a quadrilha de políticos finge não se dar conta, é que se uma região é um cartão postal, ao se construir quatro prédios “dentro” do cartão postal, esta região deixa de ser um cartão postal, e virá coisa alguma.  (Se o central park fosse tomado por prédios, avenidas e comércio, ele deixaria de ser o central park). O presente projeto se auto-inviabiliza, pois ao enfeiar o que poderia ser embelezado, ele se torna comercialmente burro. Sendo um profissional liberal, eu teria vergonha de ter uma sala ecologicamente muito agressiva e nas redondezas da rodoviária. É ruim de pensar que o atual projeto, no lugar de revitalizar a área, vai terminar de matá-la, é um projeto de Eutanásia, ou “remortificação do cais”. Se prédio de escritórios revitalizasse, a avenida Júlio de Castilhos seria o Leblon.
SE o papel da classe política é cuidar dos interesses do povo, e o que ela promove é uma alegre  e camuflada “enrabação” do seus eleitores, temos que pensar que a democracia não esta atendendo os seus propósitos. O fato de haver rodízio no poder, parece apenas rodízio em quem submete analmente a população: muda quem nos enraba, mas não o ato de enrabar. Não parece interessante o rodízio assim, ou antes, apenas rodízio não muda o ato de fazer a população sofrer. Isso não combina com meu ideal de democracia...
Os políticos saíram de seu papel de cuidar de nossos interesses contra o poder do capital e passaram a cuidar de seus interesses, fazendo o mal a seus eleitores. Em tudo e por tudo essa perda de identidade dos políticos lembra a pedofilia: quem deveria cuidar, agride e corrompe. Quem tem o papel de proteger, se vale desta relação de confiança para destruir a confiança. A excitação sexual do pedófilo, em particular na pedofilia intra-familiar, vem seguramente das inverções de expectativas: o que era amor vira destruição, o que era cuidado vira desamparo, o que era confiança vira medo, o que era para ser é destruído. A vítima perde (inviabiliza muitos vezes a sexualidade adulta, gera psicopatologia), mas o pai também perde sua humanidade e seu papel de pai. O amor (querer o bem do outro sem ganho para si, segundo o dicionário) vira prazer de destruir, sadismo, e deixa de ser amor.  Na pedofilia que presentemente vemos por parte dos políticos, quem deveria cuidar, lidera o assalto. A raposa esta cuidando do galinheiro. O político que entrega a chave das áreas públicas para o capital destruir, esta deixando de ser um zelador da área pública. Esta se corrompendo em seu papel de cuidar, esta se valendo de seu poder para trair o seu papel de proteger. O político que vota em um projeto assim, deixa de amar (querer o bem do outro, no caso a população) e passa a ter prazer em destruir. O prazer não esta mais em fazer o castelo de areia, mas esta em chutá-lo.
Sentado em casa, após uma sessão assim na câmara, em frente ao espelho da penteadeira, cuja a gaveta esta recheada de jóias e dólares, o político pedófilo se vê no espelho. É noite de natal, um travo amargo nubla o prazer de se sentir “esperto”- tenho uma pajero na garagem- que o ilícito traz. Ele sabe que quem chuta o formigueiro, nunca se sente produtivo, construtivo. Quem chuta o formigueiro tem prazer, mas não paz no coração. Ele sabe que mais do que corromper os outros, é a si mesmo que a corrupção se gruda. Ele nega para si a percepção da dor moral, mas ela vem como certeza de que ficou menor. Tomando a chave de sua pajero sai para uma volta pelo gasômetro, para ver a árvore de natal, para ver as melhorias que a Pepsi fez no gasômetro, mas não convida os filhos, não tem coragem de convidar os netos para ir junto: os netos estão sozinhos vendo o dicovery kids. Ele não teria onde levar os netos, que não passasse por abrir a carteira. Se só cenários de consumismo existem, o avô é menos uma pessoa e mais uma carteira. Ele tem –claro- a carteira cheia, mas não levanta o olhar para o neto. O político na noite anda com sua pajero vazia, o político enriquecido pelo sigilo e pelo capital não chegará a Jucelino, e no seu obituário constará: foi vereador de Porto Alegre por uma legislação, se envolveu na aprovação das torres gêmeas. O político não chegará na árvore de natal: um absurdo engarrafamento na rodoviária o prenderá até o amanhecer do dia 25 em plena Mauá. A enchente de 41 o prenderá em um rio marrom de esgoto. A polícia federal o prenderá em algum momento. A insignificância de suas ações o prenderá em uma irrelevância aos seus contemporâneos. Não existe dinheiro que compre caráter, em geral muito antes pelo contrário. Não existe amor de neto quando o valor que se passa para o neto é o materialismo. E um grupo de torcedores bêbados de um pais improvável passa de volta para seu hotel de beira de rodoviária.

2 comentários:

  1. PERDERAM!!!!!!!!!!!!!! A cidade vai sair do atraso da turma de voces. Até que enfim teremos o cais revitalizado, como é o desejo da MAIORIA DA POPULACAO!!!!

    ResponderExcluir
  2. Preciso de informações sobre um concursos para projetos de revitalização do cais mauá realizado há alguns anos.
    Não lembro quem fez o concurso mas a idéia era de selecionar os melhores projetos de ocupação do antigo Porto de Porto Alegre.
    Qualquer informação sobre este concurso ajudará

    ResponderExcluir

Seguidores

Páginas