Cais Maua

Em defesa de uma parceria público privada em que o que seja público siga-o, e o que é da privada, siga-a!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O brete político em que a ZH colocou Tarso no tema do Cais

 
Nas noites de chuva, um fantasma político ronda o Palácio Piratini

              
O brete político em que a ZH colocou Tarso no tema do Cais
Para não demonstrar inabilidade política de saída e perder investimentos, como o governo Olívio com a Ford, o que Tarso precisa fazer com o projeto de revitalização do Cais?

            Sob pena de botar a perder os investidores, o governador Tarso não pode correr o risco do enorme ônus de prejuízo político de se mostrar retrógado e petetosco com o capital investidor: deve logo entregar todas as meninas virgens para a prostituição. A prostituição gera empregos, traz europeus ricos para o turismo sexual, é uma desagradável mas inevitável necessidade, é uma proposta extremamente moderna. Não podemos deixar nossas crianças sem utilidade econômica, abandonadas, precisamos “revitalizar” a sexualidade delas, que esta sendo muito mal aproveitada, afinal um pedófilo paga qualquer coisa por uma criança brasileira. O sistema de entrega dos menores será uma inovação: será o moderno sistema de parceria público-privada, sendo que a iniciativa privada entra com o capital e o público com as crianças, e a palavra “parceria” vem da noção do afeto, inevitável nestes enlaces amorosos. Não devemos nos enganar: o que realmente o turista da copa esta querendo vindo ao Brasil é a prostituição, e temos que nos render – pelo pragmatismo- aos novos costumes que o dinheiro impõe. Como Tarso representa uma visão um pouco mais antiga, é provável que esteja com alguma anacrônica dúvida sobre o projeto, não iria admirar nada que este vacilo do governador afugentasse para a Bahia investidores ávidos de construir dinâmicos lupanares de menores.
       Ao aceitar projetos como entregar áreas públicas para construção de shopings e edifícios, tendo em troca um aluguel de duas lojas no Moinhos de Vento, o governador poderia também dar continuidade a outras ações do governo Yeda: por exemplo, poderia em nome da realpolitik, aceitar uma mansão também, pois não podemos deter as novas práticas. A espionagem dos dados policiais de militares e um rol grande de inovações poderiam ser continuadas.
       Contudo Tarso não é continuidade do governo Yeda. Ao ser eleito, foi eleita também a discordância. Neste sentido, esperamos que Tarso abandone a noção que “dar lucro” é um valor único, acima e isolado de outros valores. Pela pauta de valores anterior, superada pelo voto, parece que ser “rentável” é um valor auto-explicável e em certa medida único. Por que não entregar área pública, de forte vocação para o turismo, para um parque e para a cultura, para se fazer um shoping? Pressuposto desta "noção de mundo" é: cultura, árvore e passeio público para o turista (como o aterro do Flamengo, ou a calçada de Copacabana) são sem uso financeiro, portanto são "sem vida". Um shoping gera receita ao estado, empregos, portanto é o retorno da vida, vida "econômica" bem entendido.
       A proposta superada pelo voto, de Yeda, tem o lucro amoral como único valor. É neste sentido que a prostituição infantil é um exemplo algo extremo, mas categoricamente de mesma lógica: o lucro sem noção, o lucro sobre a ética. Outros exemplos de lucro sem sentido: a) montar uma firma de excursão para presos políticos na Argentina, já que a passagem de volta é lucro da empresa. B) vender o SUS: exemplo de algo caro, que o estado não tem conseguido cuidar, que esta abandonado, que seguramente vai encontrar um banco que deseje investir, e que combina bem com termos como “revitalização”. C) lotear o parcão: um hotel internacional é algo que Porto Alegre precisa, não vão faltar investidores que queiram torres de escritório no ponto mais nobre da cidade, nem falar em shoping. De noite o local é abandonado, o ajardinamento esta meio caído, e salvo um ou outro vendedor de pipocas, é um espaço de desemprego, atrasado, em que o estado apenas põe dinheiro, sem nada tirar (dinheiro este que obviamente falta da merenda escolar, do remédio dos velhinhos). É certo comprar ração de pato e de tartaruga com o dinheiro dos antibióticos dos mais carentes?
       Os exemplos de que o lucro pode ser um mal valor único poderiam se seguir, da venda de sabonetes dos campos de concentração, até as madeiras da nossa construção civil vindas da Amazônia.
       Contudo, independentemente de ser um falso brete, em política as coisas não são exatamente filosóficas, muito são aproveitamentos, sempre são “como fica para as pessoas”. A grande imprensa local preparou esta arapuca política para Tarso: se ficar pelo projeto de revitalização do lucro com o cais, será denominado de pragmático e moderno. Se ficar pela cultura, contra o arrendamento de terrenos para espigões privados, será rotulado de inábil, de pessoa que não dá continuidade as boas idéias dos governos anteriores, será assustado com o fantasma de ter mandado correr investidores.
       Portanto o governador só tem uma saída para exorcizar a arapuca política do cais: pedir um referendo da população com dois itens: vote 1 para cais cultural/público/arborizado e para o turismo. E vote dois para um cais capitalista/privado/centrado no automóvel, na venda de produtos, nos usos dos investidores. Um plebiscito por uma das duas revitalizações: ou pela revitalização Louis Vuitton, ou pela revitalização ao estilo do Teatro São Pedro, uma revitalização cidadã. E os diretores da Zero Hora terão apenas o direito a um voto único cada. Escapa do brete, e seguramente escapa da revitalização Modelo Yeda, pois como se viu no caso do pontal do Estaleiro Só, um percentual de 80% da população não gosta de apenas a lógica do lucro dar as cartas no tema do urbanismo.
 

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